segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Roupas Offline



Para o inverno 2010 _que começa a chegar às lojas do Hemisfério Norte agora_ a moda quis ficar mais “limpa”. Livre de decorações e excessos. Less is more, como nos anos 1990. A consequência disso é que as formas ficam mais puras, os cortes simplificados, as proporções práticas, as cores neutras e os tecidos, de alta qualidade, com superfícies inovadoras, tornam-se protagonistas.
Mas a moda não se resume as meras vontades comerciais e desejos de consumo. E assim, o extremo foco na superfície das roupas pode ter uma explicação um pouco mais subjetiva.
Quem nunca sentiu aquela vontade súbita de acariciar, apalpar ou simplesmente tocar uma superfície felpuda? Desde crianças somos levados por nosso subconsciente a estender a mão para essas coisas que praticamente pedem para serem tocadas. Um filhote, um ursinho de pelúcia, um cobertor aconchegante, um tricô confortável, uma cashmere peludinha e uma falsa pele…
Agora não é diferente. Quando o estilista responsável pela linha masculina da Lanvin, Lucas Ossendrijver, foi explicar as várias texturas que aplicou em seu verão 2011 disse: “São roupas para serem tocadas”. Fundamento também percebido na coleção feminina da temporada anterior, onde Alber Elbaz quis lembrar da nossa atual carência de toque.
Hoje passamos grande parte de nosso tempo sentados na frente de uma tela de computador. Vivemos de imagens, relações virtuais e contatos online. Cada vez mais privados do contato real com pessoas e outros aspectos do nosso cotidiano.
Assim, os veludos, tweeds, lãs, tricôs, cashmeres, casimiras, peles falsas, plumas, couros, cetins, musselines, sedas e plastificados que ganharam destaque neste inverno surgem justamente para suprir essa necessidade. São roupas para serem sentidas. Estimular o toque, ou pelo menos a sensação dele.

Foto publicada em editorial da revista Dazed & Confused de setembro de 2010

 
 
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